Tomar ganhou um novo albergue de acolhimento a peregrinos do Caminho de Santiago de Compostela, que resulta da reconversão da antiga escola primária da aldeia de Calvinos. A Câmara Municipal de Tomar e a União de Freguesias de Casais e Alviobeira assinaram o protocolo de cedência do Albergue de Calvinos, passando a gestão a ser assegurada pela junta de freguesia. Tomar passa assim a conter dois albergues que são propriedade municipal, além de outras respostas em empreendimentos turísticos privados.
As obras de beneficiação do espaço foram executadas pelo Município de Tomar com objetivo de “proporcionar condições para o acolhimento dos peregrinos que percorrem o Caminho de Santiago, o primeiro Itinerário Cultural Europeu criado pelo Conselho da Europa”.
Na ocasião, Filipa Fernandes, vereadora da Câmara Municipal de Tomar, e João Luís Alves, presidente da União de Freguesias de Casais e Alviobeira, manifestaram o seu contentamento e destacaram a importância deste novo espaço, “não só pelo apoio que dará aos peregrinos, mas também pela satisfação dos moradores da localidade em verem este espaço reabilitado”.
Em entrevista cedida ao mediotejo.net, Filipa Fernandes falou da estratégia municipal sobre o troço do Caminho que atravessa o concelho de Tomar, que visa essencialmente assegurar condições para que o caminheiros percorram em segurança e com informação ao dispor o traçado original e historicamente comprovado.
Por outro lado, o município conseguiu dar nova vida e aproveitamento a antigas escolas primárias, que sendo propriedade municipal, acabam por ser cedidas a associações ou convertidas noutro tipo de equipamentos, como é o caso dos albergues de peregrinos.
“Uma das prioridades do Município de Tomar é devolver a vida aos espaços escolares já devolutos, algo que não faz sentido algum. Temos atribuído o seu usufruto a associações ou juntas de freguesia para devolver o espaço à comunidade e ganhar nova vida aquele que era um espaço inutilizado”, começa por referir.
Na questão dos albergues, frisa que se trata de “algo particular” porque “havia inexistência de respostas deste tipo de alojamento no Caminho de Santiago em Tomar e criámos um protocolo com duas juntas de freguesia, sendo que são questões completamente diferentes”.
No caso de Calvinos, trata-se de um projeto que o município já tinha em desenvolvimento com intuito de converter a antiga escola primária, naquela aldeia da União de Freguesias de Casais e Alviobeira. “Surge assim um albergue para que haja resposta em dois pontos distintos do caminho de Santiago em Tomar”, explica a vereadora.
“À entrada do caminho de Tomar tem o albergue de Asseiceira, podendo pernoitar aí e depois ficar pelo concelho e usufruir de todo o património que Tomar tem para oferecer. E depois pode ficar no albergue de Calvinos, que já fica à saída do caminho de Tomar, para então continuar o percurso”, conclui.
O albergue de Calvinos, cujo protocolo com a UF Casais e Alviobeira foi assinado a 29 de abril, terá gestão da junta de freguesia, que poderá delegar numa associação, por exemplo, a entrega das chaves aos caminheiros, a gestão da limpeza e manutenção do espaço.
Por seu turno, a Junta de freguesia de Asseiceira tem um protocolo de comodato celebrado com a Câmara de Tomar, e foi a própria junta que tomou a iniciativa de criar um albergue de peregrinos na antiga escola primária, o atual Albergue D. Dinis, inaugurado no final de outubro de 2019.
Em balanço da iniciativa, Filipa Fernandes refere que este albergue em Asseiceira é um espaço bastante utilizado por parte dos caminheiros que fazem o Caminho de Santiago, ainda que com a pandemia a afluência tenha diminuído porque estes locais tiveram de fechar portas e foram condicionadas estas atividades.
Para uniformizar o processo em ambos os espaços, a Câmara Municipal criou normas para o funcionamento dos albergues, “para que não se desvirtue aquilo que é o intuito: a ideia, em primeiro lugar, é dar a possibilidade de caminheiro que vêm até Tomar ficarem naquele local, e ao mesmo tempo, que este objetivo não fique desvirtuado com outro tipo de cedências ou utilização que não o fim para o qual foi criado”.
“Criámos protocolo e regras, e foram cedidas a ambas as juntas de freguesia para que possam prosseguir com a dinamização dos albergues no nosso concelho”, afirma Filipa Fernandes.
A autarca defende que o Caminho de Santiago “é um caminho que precisa de ser preservado, precisa de ser salvaguardado, e há um longo percurso por parte dos municípios a fazer no sentido da certificação”.
“O Município de Tomar é membro da direção da Federação dos Caminhos de Santiago, que pretende salvaguardar os caminhos históricos e seguros, para que paulatinamente se vá criando mais condições para os caminheiros. Por exemplo, garantindo que a sinalética está bem instituída no caminho em cada município; a nível de informação útil ao caminheiro, no caso do caminheiro que precise de algum cuidado médico, de algum serviço por parte dos bombeiros ou similar; dar condições aos caminheiros a nível de dormidas, que antes também não existiam e nesse sentido atrair mais visitantes e fixar mais tempo o visitante no território”, enumera.
O objetivo em Tomar é também conquistar o caminheiro, para que “em vez de pernoitar noutro território, possa pernoitar no concelho, usufruindo das refeições ou de outro comércio”, envolvendo-se na dinâmica local e contribuindo para a economia tomarense.
Quanto ao processo de certificação, a vereadora da CM Tomar assume que é um processo “complexo”, uma vez que a Federação está a trabalhar na certificação de uma parte do Caminho de Santiago em Portugal, mas as várias entidades de Turismo, caso do Turismo do Centro e do Turismo do Porto e Norte, também estão a querer certificar.
“Penso que tem que haver uma conversa entre as entidades para chegar a consenso no sentido de ambas poderem em conjunto certificar o Caminho de Santiago. O objetivo é não desvirtuar. É importante que haja evidência histórica para que o caminho passe em determinados municípios, e é nisso que batalhamos. Não queremos que se desvie o caminho real em torno da influência turística que pode ter para cada município”, afirma.
No região Centro, zona de que Tomar faz parte, aguarda-se que ou o Turismo do Centro ou a Federação, “ambos com competência para candidatar a certificação” segundo a vereadora, definam quem avança com o processo.
O troço do Caminho Central Português que atravessa o concelho nabantino passa por Grou, Asseiceira, Ponte Velha de Tomar, Ponte de Peniche, Casais, Soianda, Calvinos e Ponte de Ceras, sendo considerado percurso linear em piso misto.
Tem uma extensão de cerca de 27 km, com duração média estimada em 10h para a percorrer.
Refira-se que, a 15 de abril de 2021, o Caminho Português de Santiago Central – Alentejo e Ribatejo foi o primeiro a obter a certificação governamental da Comissão de Certificação – órgão de coordenação nacional criado para o efeito. A certificação foi atribuída através de uma portaria conjunta (n.º 120/2021), publicada em Diário da República, das secretarias de Estado do Turismo e Adjunta e do Património Cultural, em resposta a uma candidatura apresentada pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR).
O CPSC do Alentejo e Ribatejo tem uma extensão de 435 quilómetros e está dividido em 19 etapas que atravessam 16 concelhos.
Segundo o Ministério da Cultura, estão em curso processos de certificação de outros itinerários do Caminho de Santiago em Portugal que “irão reforçar a rede”, de norte a sul do país. Uma das situações apontadas pela tutela é a premência de constituir e disponibilizar albergues para apoiar os caminheiros ao longo dos percursos em território português.